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A Europa continua a extremar a sua direita, a diferença na Suíça é que não têm pudor nisso. Há pouco mais de um ano tempo referendaram se deviam ou não proibir os minaretes nas mesquitas. O próprio referendo já foi um ataque inaceitável à liberdade religiosa. Mas nesse dia aconteceu algo inconcebível: a proposta foi aceite em referendo. Inconcebível numa Europa ainda a lidar com as consequências directas da II Guerra Mundial, onde a Suíça não teve qualquer papel (mas lá que eu não queria ser suíça, não queria — bastam-me bem as insónias que tenho mesmo não sendo do Eixo! Ai, que isto não se pode dizer assumidamente, lá se me escapou o parêntesis…).

A quantidade de grandes refilanços, que sou uma exagerada, que os suíços são boa gente, bem intencionada, aquele discurso habitual do “lá fora são todos mais inteligentes que nós”… enfim. Bom, a realidade e o tempo são implacáveis. É uma chatice!

Eis que agora aprovaram a extradição de condenados, de quem não se insira no sistema. Claro que as nossas cabecinhas racistas pensaram imediatamente nos muçulmanos e não nos importámos nada. É natural que os bons suíços sempre tão neutrais queiram viver em paz sem terem que aturar criminosos muçulmanos.

Newsflash: têm noção da quantidade de portugueses que vive na Suíça? E descendentes que têm nacionalidade portuguesa — e que são portanto expulsáveis — mas que não têm qualquer ligação a Portugal? Serão todos absolutamente santinhos, não há criminosos portugueses? Alguém ligou o Onofre (o botão de on e off, como diz o JMB) para pensar nem que seja um cagagésimo de segundo?

Ou seja, isto vai cair-nos no colo! Vamos mesmo ter que integrar gente que a sociedade suíça educou (mal, pelos vistos) e que agora despeja aqui para resolvermos — sem família próxima, sem relações afectivas, sem redes solidárias nem apoios, muitas vezes sem saber a língua. O Canadá e os EUA sempre fizeram isto com açoreanos e nunca tiveram bons resultados. Eles não fazem inserção social de prevenção junto dos jovens, antes de se tornarem criminosos e cá o mexilhão que gaste o dinheiro a recuperá-los já depois de condenados!

Trata-se de uma pena dupla que resulta não do crime, mas do facto de serem imigrantes ou descendentes. Apenas a primeira pena — prisão, multa, o que seja — resulta do crime cometido.

 

Isoladas num país estrangeiro, o objectivo dessas pessoas, em vez de ser reconstruir a vida e integrar-se no seu país, que o único que conhecem e com que se relacionam, onde têm família e redes de solidariedade, passa a ser voltar e rever a família a qualquer custo, sobretudo quando têm filhos — e quem é que pode censurar isso?

Auditoria

Que se lixe a troika