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Este post começou por se chamar “Retratos de uma geração”, porque queria destacar este discurso curto, conciso, muito directo e, por isso mesmo, brilhante do João Pacheco. Estava a lembrar-me de mim e da maioria dos meus amigos desta nossa geração trinta e qualquer coisa.

Depois lembrei-me do Contre-feux do Pierre Bourdieu que já tem mais de dez anos.  Logo em seguida ocorreu-me ainda este post de ontem da Joystick.

O João Pacheco tem toda a razão: “(…) o que está em causa é a democracia. Mas não é de hoje, nem sequer é já notícia. É um flagelo com décadas, que alastrou exponencialmente nos últimos anos com a impunidade instalada, mas não é novo. Não é portanto um retrato de geração: é um retrato da desumanidade do Mundo.

Dia 13 ouvi um concerto com esta soprano fabulosa: Frances Lynch.

A peça do Alejandro Viñao, que se pode ouvir no site dela, é muito boa. Forte… não é para quem tem estômago frágil ou ainda vive nas nuvens numa de vive e deixa viver a pensar que a guerra é uma coisa boa e misericordiosa que se faz aos outros e que até nem tem nada a ver connosco directamente.

E o que era o espectáculo?

Música? Sim.
Teatro? Também.
Teatro musical? bdakh… isso faz lembrar aquelas coisas do West End com muito barulho por coisa nenhuma!

Designações à parte: havia cenários muito simples, uma encenação também muito escorreita, música boa (bem… quase todas as peças eram boas), conteúdo (bom… quase todas as obras tinham conteúdo).

Houve uma peça de que eu claramente não gostei. Não tem lógica recitar um soneto tal e qual só com um movimento de que não se percebe o sentido e berrado/gritado/quase uivado sem razão nenhuma aparente. Claramente a compositora pensou que fazer novo é só fazer diferente; não precisa de ter razão, causa, métier, saber, interesse… só precisa de ser inédito. Há coisas que nunca se fizeram, porque simplesmente não têm interesse nenhum ser feitas! Não acrescentam nada: nem um belo ou uma noção de belo, nem diversão, nem distracção, nem conteúdo.

E depois há a Frances propriamente dita. O trabalho dela sobre as obras, o modo de as trabalhar, a precisão do tempo num ritmo caótico, a expressividade, mas sobretudo o domínio absoluto da voz. Ela não tem um timbre que espante, mas faz absolutamente TUDO o que quer com a voz! Todos os tabus que nos impõem durante anos (aos cantores): não fazer determinados sons, porque estragam a voz, não colocar na garganta, não fazer força… pois ela é capaz de infringir todas essas regras em simultâneo num só som e entrar dois segundos depois num agudo limpíssimo, colocado, com a dose certa de vibrato, tudo no sítio! Não é inédito (lembra imediatamente a Maria João), mas é uma fantástica raridade.

 

Ao contrário das facilidades do Metro, a Casa da Música é uma complicação pegada. É pouco prática e desagradável para visitantes e residentes.

Por todo o lado há elevadores que só funcionam com cartões magnéticos, mas nem toda a gente que precisa de circular tem acesso ao tal cartão. Isso significa andar a toda a hora a procurar alguém com cartão e a pedinchar a todo o instante “Olhe, por favor, puxe-me o elevador”. Esta frase fora de contexto soa mal como tudo, mas eu andei a repeti-la a cada um que passava durante três dias! Porque tinha que trabalhar e ir da sala de ensaio para a de concerto e daí para o escritório, depois para o bar, etc. Sempre a pedir para me abrirem as portas ou puxarem os elevadores!

Os camarins são longíssimo da Sala 2 e também só se circula com cartão. Ou seja, quem não pertence a um dos agrupamentos residentes da CdM, ou se fôr artista convidado, tem que ter um acompanhante a todo o instante para puxar o elevador. Teoricamente podem utilizar-se as escadas de emergência, mas na prática é preciso um curso superior sobre labirintos para o poder fazer…

Os corredores e salas abertos ao público são bonitos, as cadeiras também são bonitas, ficam bem com a decoração; mas como se trata de assistir a espectáculos, mais valia que tivessem investido no conforto das ditas.
As áreas que público não vê são em betão nú e crú, como se fosse um prédio em obras: um gigantesco labirinto cinzento e indecifrável! Por exemplo, o escritório era separado da entrada por um simples vidro. No entanto, quem não tinha cartão tinha que dar a volta por outro andar, descer e voltar a subir só para se encontrar do outro lado do vidro (tanta coisa e nem direito tive a encontrar o Humpty-Dumpty!).

Há pormenores inexplicáveis e que na realidade são até gigantescos. Por exemplo, com uma casa cheia de elevadores por todo o lado e com alguns dos maiores elevadores do mundo para transportarem grandes pianos, orquestras inteiras, etc, como se explica que haja zonas inacessíveis a monta-cargas normais e onde os instrumentos só podem entrar ou sair se forem completamente desmontados? Isto é um custo gigantesco, porque significa que há pianos de concerto presos em determinadas salas e que não se podem tirar. Um piano de concerto, já agora, é apenas um gigantesco pormenor de largos milhares de euros.

No meio deste ambiente desagradável e cinzento, a trabalhar em subterrâneos côr de betão, há uma equipa extremamente simpática e agradável, que puxa o elevador centenas de vezes por dia com um sorriso e explica vezes sem conta o caminho labiríntico com passagem por vários andares para dar a volta a um vidro.

Fiquei muito bem impressionada com o Metro do Porto. Estações limpas, comboios sempre a passar. Do ponto de vista do turista a rede é boa, não tenho conhecimento suficiente da cidade para perceber se é funcional para os habitantes do Porto e grande Porto.
Mas o que realmente me impressionou foram os modos de pagamento das viagens. Até parece o resto do mundo! Como é óbvio para qualquer cidadão de qualquer cidade, excepto da grande Lisboa, compra-se um bilhete ou um passe por zonas e com esse bilhete podem percorrer-se as zonas correspondentes em qualquer transporte público que lá passe! Não há passes só para o Metro, mas se por acaso passar o autocarro já não dá e se quiser ir de barco ou de comboio, então ainda é outra coisa…
Nada disso! É simples como em qualquer outro sítio. Zona 1 e 2: dá para os transportes que passam nas zonas 1 e 2. Zonas 1 a 3: surpreendentemente para mim, alfacinha de gema, dá para qualquer transporte que passe nas referidas zonas. E assim por diante.

Que o sistema seja assim no Porto (ou em qualquer outro sítio) é óbvio. O que não é nada óbvio nem simples é perceber porque raio não é assim em Lisboa!

Espero não ter que esperar mais dois anos para ter um bom pretexto para ir ao Porto. E espero que da próxima não seja em trabalho, porque desta vez a única visita que fiz foi a S. Bento, ao Piolho e ao Capas Negras. Tenho que ir ver por dentro a igreja românica em Cedofeita.

De 11 a 23 de Setembro, em Lisboa e no Porto

 

Sábado ainda há Ensaladas na Regaleira!
Quinta da Regaleira, Sintra
18h

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Auditoria

Que se lixe a troika